Em Portugal, a marcação dos bovinos de lide funciona assim:
1. Imobilização – Por uma das formas seguintes (1.1, 1.2 ou 1.3)
1.1. Alguns rapazes e/ou homens agarram o animal pelas orelhas ou pelas ilhargas e derrubam-no. Regra geral, são-lhe amarradas as pernas.
É demasiado evidente que a forma violenta como a vítima é derrubada e imobilizada lhe causa dores e stress. Os momentos que antecedem o derrube não são menos stressantes, conforme se pode perceber pela visualização/audição do vídeo de 56 segundos que se segue.
1.2. O indivíduo é imobilizado numa jaula, vulgarmente designada por caixão da ferra, sendo a sua cabeça presa numa abertura de uma portinhola.
Fica com o lado esquerdo do corpo encostado a uma das laterais, preso por duas cordas ou por correntes amarradas no tronco, sendo ainda agarrado pelo rabo.
1.3. Por vezes, é dispensada a jaula e opta-se por um outro tipo de estrutura.
São feitas as seguintes marcações, todas elas do lado direito:
2.1. Coxa - Ferro da ganadaria que tem as iniciais do ganadeiro ou o brasão de família;
2.2. Costado - Número de registo;
2.3. Espádua - Último algarismo do ano (ganadeiro) de nascimento;
2.4. Pescoço - Letra “P” – ferro da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide –, em Portugal Continental; ou letra “P” e/ou letra “A” – ferro da Associação Regional de Criadores de Tourada à Corda –, nos Açores ;
2.5. Garupa – Mais uma marca, se a ganadaria portuguesa estiver também inscrita nalguma outra associação (estrangeira) de criadores touros de lide (se houver, por exemplo, um registo no Livro Genealógico Espanhol – o que é habitual).
Um bezerro cujo número de registo seja composto por 3 algarismos fica com 6 a 8 queimaduras em poucos minutos! Nenhum outro animal é marcado com mais ferros do que um indivíduo destinado a ser toureado numa qualquer praça.
3. Cortes nas Orelhas - Um Extra Muito frequente
Aproveitando a imobilização do animal, não é raro que se façam vários cortes nas orelhas com uma lâmina. São amputadas partes de orelhas ou feitos rasgos, que chegam a dividir orelhas em duas partes. O intuito (dizem) é as marcas serem uma espécie de assinatura, que difere de ganadaria para ganadaria.
Na imagem seguinte, vê-se um homem com uma navalha ensanguentada na mão, durante uma curta pausa entre golpes.
No vídeo de apenas 5 segundos que se segue vê-se um homem a fazer cortes nas orelhas de um bezerro imobilizado no chão.
Também estas marcas nas orelhas ficam para sempre, conforme se pode constatar pela visualização das duas fotos que se seguem.
Foto: Blogue Quebra do Silêncio |
Foto: Blogue Contra a Tauromaquia em Portugal e no Mundo |
4. Dores e Infecções
Quer a marcação com os ferros em brasa ou em chama (muitas vezes feita até por pessoas inexperientes), quer os rasgos/mutilação das orelhas, provocam dores muito intensas (por não ser utilizado qualquer tipo de sedação ou anestesia), bem como feridas, que acabam, não raras vezes, por infectar. Estes ferimentos atraem moscas e servem de depósito de ovos, que eclodem e libertam larvas. As larvas alimentam-se, durante vários dias, do tecido subcutâneo dos animais marcados, aumentando e aprofundando ainda mais as lesões.
5. Momento da Vida – Pior era Difícil!
Os animais são marcados por estes processos quando ainda são muito jovens, habitualmente entre os 7 e os 11 meses de idade. Regra geral, passam por estes momentos traumáticos num dia em que já estão particularmente assustados, por se tratar do dia em que foram, pela primeira vez, separados das suas mães. No caso dos machos, a separação entre estes e as respectivas mães é definitiva.
6. Época Escolhida
Em Portugal, a época Outubro-Março é a mais escolhida para a marcação de bovinos de lide, talvez porque as pessoas que estão ligadas à tauromaquia precisam de ver maus-tratos aos animais o ano inteiro e esta é uma época na qual praticamente não se realizam touradas de praça.
7. Dia de Ferra; Dia de Festa!
Assistem quase sempre muitos convidados e o ambiente é festivo. Exemplos: https://www.youtube.com/watch?v=ldQx0nmd7Tw, http://www.youtube.com/watch?v=WPMjAITr4XI.
[Texto: Marinhenses Anti-touradas (actualização do texto dos Marinhenses Anti-touradas da publicação de 20 de Junho de 2012)]
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