Muito recentemente adquiri a publicação “A Vida e a Arte de Goya”, inserida na publicação quinzenal “Iniciação – Cadernos de Informação Cultural”, editada, em 1943, pelo Professor Agostinho da Silva.
Francisco José de Goya y Lucientes (1746 - 1828) foi um pintor e gravador espanhol que, segundo Agostinho da Silva, embora mantendo relações com gente da corte não perdeu a independência e o “gosto de livre crítica”, continuando a ser um “homem do povo do nascimento à morte”.
Nos últimos anos da sua vida, “apesar da velhice e da doença, a sua capacidade de trabalho não diminui” tendo gravado “os Provérbios e a Tauromaquia”
Talvez pelo simples facto de ter obras sobre a tauromaquia, Goya foi, durante muitos anos, considerado um defensor das touradas, tendo sido um dos grandes vultos da cultura citado pelos adeptos das mesmas em defesa da sua continuação. A título de exemplo, ainda em 2010, Ignacio Gonzalez, vice presidente da Comunidade de Madrid socorria-se do “interesse de grandes artistas pelo espetáculo taurino”, entre eles Goya, para anunciar que o seu governo iria declarar as touradas como “bem de interesse cultural”.
Através de uma leitura mais recente da obra de Goya, os especialistas chegaram à conclusão de que ao contrário de ser defensor das touradas aquele terá sido um crítico da violência tauromáquica.
José Manuel Matilla, conservador do Museu do Prado, referindo-se a uma exposição sobre Goya que esteve patente naquele museu escreveu:
"A crítica romântica apresenta um Goya taurino, que inclusive na juventude chegou a tourear, mas essas gravuras são uma grande crítica à tauromaquia, especialmente pela enorme violência para toureiros e cavalos. A série termina com a morte de Pepe Hillo na Praça de Madrid, o mais famoso toureiro, que levou à proibição de touradas. Para Goya, as touradas não são ações heroicas, mas sim o medo e o terror, a morte, a violência e a irracionalidade”.
Segundo Sabela Rodríguez Álvarez, aquando da inauguração da referida exposição o escultor, Juan Bordes, destacou “quatro pinturas batizadas como Los toros de Burdeos, que mostram “o touro como o único inocente”, frente aos rostos do público e dos toureiros, que são representados de forma "monstruosa", como a personificação de "quem quer se alimentar de sangue”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31058,18 de outubro de 2016, p. 14)