DIÁRIO INSULAR 17.ago.2013
Toiros não têm guelras nem barbatanas
Heliodoro Tarcísio
Não
costumo escrever a pedido mas vou fazê-lo desta vez, para atender a
solicitação de um bom amigo e porque concordo com ele neste assunto.
Será um texto curto, para transmitir uma mensagem específica. Nascido
em S. Jorge, cresci na Terceira e sempre gostei das touradas à corda.
Ainda hoje, quando já não sou jovem, a não ser de espírito, vêem-me
com frequência nas touradas e não sobre as paredes nem nas tascas mas sim na
rua, de calções e sapatilhas, correndo atrás do touro, para apanhar todas
as peripécias.
Também
me interesso pelas touradas de praça, sobretudo à Portuguesa, mas neste caso
tenho opiniões firmes e pouco ortodoxas. Todavia, não vou abordar
essa área hoje.
Há
muita coisa que me atrai nas nossas touradas à corda, a admiração pelos
próprios animais, quantas vezes magníficos exemplares, pela sua aparência,
porte e bravura; o gosto pela natureza, desporto e atividade física
em geral; o colorido das ruas cheias de gente e o ambiente geral de
animação e festa; os momentos de adrenalina quando fugimos do bicho;
e também, como ecologista e amante dos animais, agrada-me o fato de
se ter evoluído bastante na proteção dos touros de corda, produzindo
legislação adequada. Ainda podemos melhorar nesse domínio.
É
precisamente esta última questão que me levou a escrever sobre o assunto.
Se o toiro de corda está razoavelmente protegido pela lei, o mesmo
não se pode dizer quanto à grosseria e estupidez das pessoas. O desafio e a
provocação do animal estão implícitos na tourada à corda e é nisso
que ela assente, em grande parte. Aceito a tensão , esforço e stress
a que é submetido o animal, encarando-o como se fosse uma espécie de
“trabalho” a que o toiro tem de submeter-se para subsistir neste
mundo, como a maioria de nós, tirando o José Castelo Branco e outras
“socialites” do género. Consolo-me pelo fato do toiro ter proteção legal
e ser bem cuidado durante todo o ano, vivendo em liberdade
no mato, com os seus congéneres, em excelentes condições sendo bem cuidado
e com belas vacas à disposição. Na verdade, é até uma vida invejável, se
pensarmos no triste destino que espera tantos animais neste mundo.
Contudo,
ainda assisto a muitos comportamentos que me desgostam nas touradas à
corda e que só podem dever-se ao baixo nível de educação dos
açorianos. Refiro-me a todos os comportamentos que atentam contra a
dignidade do animal, nomeadamente, os
pontapés,
palmadas no focinho (não deixam de ser agressões…) atirar-lhe cerveja,
pedras e outros objetos, cuspir-lhe para cima, etc.
E
acima de tudo, a estúpida mania, que se tornou moda há alguns anos, de
forçar os toiros a cair na água, nas touradas à beira-mar.
De
peripécia engraçada e espontânea (todos nós já vimos toiros que gostam de
se atirar ao mar e que até dão excelentes mergulhos, no melhor estilo)
passou a ser obrigatório em alguns lugares, custe o que custar. É o
caso das touradas no porto de S. Mateus, que me inspiraram a escrever
este artigo. Nestas touradas, passou a ser obrigatório atirar o toiro
para a água e, como nem sempre isso é fácil, sobretudo quando eles
não estão para aí virados, o costume é empurrá-lo à força,
normalmente recorrendo a um cabeço de amarração, o que resulta em
quedas violentas, com risco para o toiro, devido à altura, ficando
muitas vezes o animal semi-enforcado.
Todos
nós já vimos ou soubemos de toiros que morreram por terem caído ao
mar, logo no momento ou mais tarde e, mais frequentemente vemo-los
bastante aflitos, já que são maus nadadores, com pouca flutuação
própria, mal mantendo as narinas à superfície.
Em
minha opinião este péssimo costume, que dá munição pesada aos chamados
“anti-taurinos”, deveria ser proibido, através da legislação. Na prática, não
sei bem como isso deveria ser feito mas creio que deveria partir do
próprio ganadeiro e envolver a Polícia Marítima, que têm jurisdição
sobre as zonas portuárias e balneares.
Gostaria
de ouvir outras opiniões sobre este assunto.
POPEYE9700@YAHOO.COM