sexta-feira, 10 de setembro de 2010

58 - RTP :(


RTP :(

Destinatários desta mensagem:
- RTP;
- Jornalistas;
- Decisores Políticos

Exmos. Srs.,

Os sinais de que a sociedade civil portuguesa condena cada vez mais os espectáculos tauromáquicos são evidentes. Faz todo o sentido que os jornalistas e os decisores políticos não os ignorem. Também as estações de televisão deveriam estar atentas.

Neste momento, a RTP está a transmitir uma corrida de touros. Os telespectadores podem assistir à tortura em directo de 6 touros e observar o cravar de vários ferros, com arpões de 4 cm de comprimento por 20 mm de largura, no dorso destes indefesos animais. Podem verificar como esses arpões perfuram o corpo dos bovinos, provocando-lhes profundas e dolorosas hemorragias e dilacerando-lhes músculos e tendões - fazendo-os perder litros de sangue que jorram através dos ferimentos. Podem reparar no estado exaurido dos touros durante a actuação dos forcados. E depois, podem imaginar o que a RTP não vai mostrar:

Após a pega, já fora do alcance da vista do público, as bandarilhas serão arrancadas à força, o que provocará no corpo destes seres vivos sencientes - enormes buracos e feridas e um sofrimento-atroz que os fará produzir ensurdecedores uivos de dor. E depois disso, estes 6 touros vão aguardar muitas horas (possivelmente até à próxima segunda-feira) - em tremenda agonia - pela abertura do matadouro que lhes foi destinado. Durante este período de espera desesperante, debilitados por severos ferimentos, graves infecções e febres altíssimas, eles vão estar a sangrar e a estremecer em convulsões... Até que, por fim, o sofrimento terminará. Terminará, pelo pior dos motivos – a morte!

Não conseguimos compreender como é possível que a RTP continue a beneficiar a indústria tauromáquica.

1. As Corridas de Touros são espectáculos de violência gratuita e ao transmiti-las, a RTP está a apresentar programas susceptíveis de prejudicar manifesta, séria e gravemente a livre formação da personalidade de crianças e adolescentes. Tal procedimento constitui uma clara violação do disposto no n.º 3 do art.º 27.º da Lei n.º 27/2007, de 30 de Julho (Lei da Televisão). De salientar que até já um Tribunal de Lisboa reconheceu formalmente que as touradas são espectáculos cruéis e violentos, em que os animais são submetidos a experiências de sofrimento intenso e agudo, tendo este Tribunal também reconhecido que se trata de espectáculos capazes de influenciar negativamente a personalidade das pessoas – especialmente de crianças e de adolescentes –, habituando-as e insensibilizando-as relativamente ao sofrimento e à inflicção deste, fenómenos que são apresentados como normais e aceitáveis nas touradas, mas que indivíduos e sociedades saudáveis devem rejeitar em absoluto. Transmitir corridas de touros no Verão é ainda mais grave, por estarmos num período de férias escolares em que as crianças estão acordadas até mais tarde, havendo pais que, muitas vezes sem terem consciência da influência negativa que este tipo de violência pode provocar nos seus filhos, os deixam assistir a estes espectáculos reais e cruéis que a Televisão transmite.

2. Enquanto concessionária do serviço público de televisão, a RTP tem obrigações que vão muito para além de uma dimensão jurídica. A sua actuação deveria estar, também, enquadrada numa dimensão ética e comportamental irrepreensível. As corridas de touros são eticamente condenáveis e por isso a RTP deveria optar por não as transmitir e por não se associar à tauromaquia.

3. O Governo atribui à RTP – emissora estatal -, indemnizações compensatórias, subsídios e aumentos de capital que visam (ou deveriam visar) compensar a empresa pela prestação de um serviço público. Só em 2009 a RTP encaixou mais de 9,7 milhões de euros de indemnização compensatória e contribuição para o audiovisual. (http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=RTP-apresenta-lucros-operacionais-de-13-milhoes-de-euros.rtp&article=334261&visual=3&layout=10&tm=6). Estas verbas, que provém de impostos pagos pelos contribuintes, não deveriam ser indevidamente canalizadas para a promoção de espectáculos de tortura que são rejeitados pela maioria dos portugueses (de referir que a maioria dos portugueses é contra a realização de espectáculos tauromáquicos, como revelam alguns estudos efectuados, nomeadamente uma sondagem CIES/ISCTE/MetrisGfk encomendada pela Associação ANIMAL que foi feita em Portugal em Março de 2007). Não se trata de transmitir algo que agrada a uma minoria. Trata-se de, com o dinheiro dos impostos da maioria, promover espectáculos cruéis. Trata-se de transmitir espectáculos que não deixam a maioria dos portugueses indiferente e que criam nos contribuintes que compõem essa maioria uma revolta acrescida.

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